Escrevo sem o compromisso de escrever. Restavam as saudades, instalaram-se com o tempo e com o desuso. A beleza da letra perdeu-se, já não é uma obra gráfica – nunca o foi. Esperar alimenta as saudades, dá-lhes sentido, que de alguma forma procuro. Não sei de que é que sinto falta, de quem me faz falta, não sei de quem mais falta: suponho que apenas espero um nome, com a ansiedade de quem cresceu com o nome dos outros. Agora que me consigo ver, consigo, também, ver que nome se arrastava aos meus calcanhares. Não sou nenhum Francisco, não me chamaram assim, quando me receberam, nasci sem nome, mas Francisco serei. Francisco, de duas sílabas de poema. Perco-me num mar de outros Franciscos, todos eles em dezenas de línguas e sotaques diferentes. Espero pelo meu nome, não o que me dão, não o que me não pertence, não o que descubro. Espero pelo nome de mais ninguém, um nome que, mesmo de toda a gente, apenas eu compreenda, um nome universalmente meu, universalmente eu. Um nome solitário, espero; o nome de quem se vê só, porque nada mais há para ver. Um nome sóbrio. (percebo que só espera quem não pisa o chão). Espero pelo nome, ninguém, eu, sozinho, contrário, sentido de sentido e não de sentimento.
Logicamente, esperando interminavelmente pela realização única que é a morte, mesmo sabendo que ela não se demora, que ela cresce na luz, onde não há curiosidade de procura,
Francisco Esperança
(calmamente, esperando pelo sinal mortuário do sentido da vida, que até lá estou perdido em minerais)
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